Opinião da Semana #7: Mentiras e neoliberalismo: os mil dias de Jair
29 de setembro de 2021
Imprensa ADUR-RJ
Mil dias do governo de Jair Bolsonaro. A Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal (SECOM) bem que tentou, fez campanha nas redes sociais, veiculou propaganda nas redes de televisão “amigas” do governo, mas o sentimento é de que não há nada para celebrar no milésimo dia de um governo responsável pela fome de 19 milhões de brasileiros. Nem mesmo a fanática militância digital bolsonarista envolveu-se com as campanhas como era esperado. Sinal de que o recuo presidencial no feriado de 7 de setembro ainda não foi perdoado. A popularidade do presidente nunca foi tão baixa.
Enquanto a comunicação de Bolsonaro busca reforçar as ações do governo, a capa do jornal Extra nesta quarta-feira (29) escancara o tamanho da crise: a foto de um caminhão com carcaças, pele e ossos sendo distribuídos à população faminta. “A Dor da Fome” é o titulo da matéria e um retrato do Brasil atual. Analogamente, a Anistia Internacional lançou na terça-feira (27) um relatório com 32 situações que culminaram em violações de direitos humanos desde a posse do atual presidente.
A entidade afirma que o Governo Federal descumpre o papel de garantir acesso aos direitos humanos fundamentais, como a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a moradia. Entre os fatos citados estão a conduta negacionista do presidente, a troca de ministros da Saúde, a flexibilização do controle de armas, os ataques verbais contra a imprensa e outras instituições democráticas, bem como as quase 600 mil vidas perdidas para o novo coronavírus e mais de 14 milhões de desempregados.
Desde que tomou posse em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro é o responsável por uma campanha pela desinformação em massa e o avanço de uma agenda neoliberal que jogou o país de volta ao mapa da fome, com inflação de dois dígitos e o preço da gasolina e do gás nas alturas. São mil dias de uma cruzada contra a Constituição de 1988 e os direitos aos trabalhadores, promovendo ataques às universidades públicas, aos servidores públicos, e o desmonte do Estado nacional. É natural que nos perguntemos até onde a nossa democracia pode sobreviver ante ao Bolsonarismo.
Sobre o futuro deste governo, o sociólogo Marcos Rolim afirmou em artigo no Portal Sul 21 que beira a ingenuidade “cogitar de um processo eleitoral normal em 2022”. Ele escreve que “Bolsonaro não aceitará os resultados que devem confirmar sua derrota eleitoral, razão pela qual tem implementado uma estratégia de deslegitimação do pleito que lhe assegure a justificativa pública para o autogolpe”. Em verdade, desde a eleição de 2018, o presidente afirma com frequência que foi eleito no primeiro turno, colocando em suspeita a votação pela urna eletrônica e a apuração do TSE. Em outras oportunidades, fez ameaças explícitas aos ministros do Supremo e aos parlamentares do Congresso Federal.
Mil dias de Jair Bolsonaro é tempo suficiente para compreender que ele não vai mudar. As 19 trocas nos ministérios em seu governo revelam, além de um líder autoritário e desleal, as inúmeras vezes em que membros de sua gestão foram humilhados publicamente em troca de cortinas de fumaça para desviar a atenção popular das contínuas crises fabricadas por Bolsonaro. Ainda que a maior parte da elite empresarial, mercado financeiro e agronegócio apóiem Bolsonaro em um eventual segundo turno contra Lula, apostando em um falso discurso de moderação, é cada vez mais claro que ele ainda vai radicalizar muito, porque não consegue ir para o segundo turno sem radicalizar, ele precisa “daqueles 25%”, uma vez que seu guru neoliberal afundou a economia brasileira.
Não nos deixemos enganar sobre as pretensões de Jair caso ele não vença essa eleição. Seu núcleo militante bolsonarista é antissistema e identifica em sua liderança esse compromisso. Bolsonaro mobiliza todos os valores e noções que identificam no Estado Democrático de Direito o inimigo a ser destruído, orientados por compromissos mais regressivos que os discursos antidemocráticos. Eles querem a reconstrução de uma “idade de ouro”, berço das condutas virtuosas, por tudo oposta à “idade das sombras”, representada pela “modernidade depravada”. Os mil dias de Jair só mostram o quanto ele precisa ser derrotado.
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